GIFE e Foundation Center lançam mais três publicações Grantcraft

O GIFE, com o apoio do Instituo C&A, acaba de lançar a tradução para o português de três publicações do GrantCraft sobre osphoto credit: GIFE temas Transparência, Estratégias de saída e Organização de comunidades. O evento de lançamento aconteceu no último dia 3 de dezembro e contou com a participação de pesquisadores e profissionais representando investidores sociais e organizações da sociedade civil.

O encontro, além de apresentar os materiais, teve como objetivo promover uma reflexão sobre os temas abordados nas publicações. De manhã, as discussões foram focadas no tema da transparência e, no período da tarde, sobre desenvolvimento comunitário.

Andre Degenszajn, secretário-geral do GIFE, abriu o diálogo apresentando a iniciativa e os participantes da mesa. Durante sua fala, destacou o Grantcraft como uma importante iniciativa de compartilhamento de experiências que, ao longo de uma série de edições já lançadas, vem apoiando a qualificação de investidores sociais, particularmente na sua relação com organizações apoiadas.

Para Andre, a escolha dos temas das publicações agora lançadas não foi obra do acaso. Todos eles vêm ao encontro das agendas estratégicas do GIFE, como transparência e governança. Por fim, ele reforçou como os materiais do Grantcraft são conceitualmente rigorosos, mas estruturados sobre práticas concretas de investidores sociais.

Jen Bokoff, diretora do Grantcraft, no Foundation Center, lembrou a força da parceria com o GIFE e apresentou a iniciativa como uma rede de conhecimento prático para investidores sociais. “Um hub de informações, recursos e de treinamento. Um espaço de compartilhamento.”

Segundo ela, o Grantcraft é uma forma que o Foundation Center encontrou para compartilhar conhecimento, com a teoria explicada na prática e de forma simples. Todas as informações dos artigos foram colhidas por meio de pesquisas, pela metodologia de grupo focal, o que dá valor à informação. Jen contou que já são mais de 40 guias publicados e disponíveis publicamente.

Sobre o tema transparência, a especialista destacou que ser transparente no contexto do investimento social é compartilhar toda informação relevante possível, mas, também, práticas e conhecimento. “Relações mais fortes são baseadas em comunicação clara e na troca de experiências e informações. Sem isso não há um bom investimento social.”

Ela explica que é muito importante compartilhar resultados de forma transparente. Investidores sociais gastam muito tempo e dinheiro com pesquisas e temem abrir os resultados. De acordo com a diretora do GrantCraft, os fracassos são também importantes, devem ser compartilhados e trazem com frequência benefícios diretos a outras organizações. Esse investimento em conhecimento não pode ser perdido. 

A abordagem de Jen Bokoff mostrou que, quanto mais o investidor social for transparente, mais ele estará fortalecendo seu próprio campo. Compartilhando práticas cria-se um "mercado" de investimento social mais qualificado. A própria publicação apresenta casos de grupos de investidores sociais de áreas semelhantes criados para troca de experiências.

Cristiane Felix, gerente do Instituo C&A, contribuiu explicando que, em algumas organizações, muitas vezes a transparência é apenas um requisito legal. Segundo ela, muitos agentes ligados ao investimento social no Brasil ainda não entenderam que estamos olhando para duas fortalezas. “O investidor tem o recurso, mas o financiado tem conhecimentos essenciais ao projeto. É preciso colocar o diálogo em prática para que a transparência aconteça.”

Rodrigo Villar, do CIESC, organização mexicana que está realizando uma pesquisa comparada sobre o investimento social na América Latina, contou que ainda é difícil encontrar a essência do GrantCraft em outras organizações do setor. Para ele, todos sabem que a informação deve ser compartilhada, mas muitas vezes ela fica guardada. Ainda hoje, a informação é poder. As próprias fundações têm receio de dividir o que sabem. “É preciso dedicar recursos também para trocar e compartilhar conhecimento.”

Representando a organização Transparência Internacional, Bruno Brandão destacou que o tema transparência é uma demanda da sociedade em todos os aspectos. Para ele, um exemplo disso foi o próprio encontro, em que investidores sociais discutiram o tema entre pares.

Andreia Saul, diretora executiva do FICAS, ponderou que hoje o tema da transparência já é discutido por muitos grupos de organizações da sociedade civil, vencendo algumas resistências históricas. E, diante disso, argumenta que é fundamental que haja maior diálogo entre investidores e outras organizações que estão refletindo sobre o papel da transparência. Eduardo Pannunzio, advogado e pesquisador da FGV, concordou mas alertou que o país ainda precisa evoluir muito no que tange ao tema da transparência. O guia, segundo ele, coloca a barra alta em termos de práticas de transparência e chama atenção para a importância de se avançar em iniciativas de autorregulação -- não esperando que todos os avanços venham de reformas legais. O advogado parabenizou os idealizadores da iniciativa pelo protagonismo no debate do tema e lançamento do material.

Fortalecendo comunidades e estratégias de saída

As atividades da tarde se voltaram para a reflexão de outros dois temas relevantes ligados ao investimento social privado: o financiamento e a organização de comunidades; e as estratégias de saída de um investimento social de um determinado território ou programa.

Jen Bokoff dedicou parte de sua apresentação para falar da complexidade das estratégias de saída de qualquer investimento social. Para ela, na maior parte das vezes, sair é confuso pois não se definiu um objetivo na chegada. O ideal é, desde o principio, deixar claro como será o começo, o meio e o fim do investimento. “A melhor estratégia de saída é a clareza do legado que será deixado. Se isso está claro para todas as partes envolvidas desde o princípio, a saída provavelmente não será um problema.”

Novamente a transparência ganhou espaço no debate. Para os participantes, esse item é fator determinante também nos casos de saída. Segundo Jen, uma comunicação honesta e objetiva dos objetivos do investimento pode fazer a diferença.

A presidente do conselho deliberativo do ICom, Lucia Dellagnelo, trouxe para o evento a experiência das fundações comunitárias para o fortalecimento e organização de comunidades. Ela ressaltou a importância da presença de representantes da fundação no campo, constantemente. Para Lucia, esse diálogo entre a equipe da organização e a comunidade deve ser frequente e sempre claro, dando destaque aos avanços e ao legado que pretende ser deixado no território. Lucia alertou, ainda, para certos riscos na própria noção de "saída", já que o investidor que pretende atuar na organização de comunidades já é, de alguma forma, parte dela. Não se trata de um ator externo que entra e sai, mas de uma organização que interage e desenvolve relações com os demais atores locais.

Paula Fabiani, diretora-presidente do IDIS, também esteve presente e reforçou a ideia de que a saída deve ser estratégica, e da importância de fortalecer lideranças locais que vão permanecer na comunidade e possibilitar um legado "feliz".

Por fim, Rodrigo Villar contribuiu destacando que é importante conciliar mobilização social e o atendimento de necessidades básicas, dependendo do contexto local. O pesquisador ressaltou que construir escolas e hospitais, em alguns casos, também é muito importante. Mas, novamente, reforçou o quão importante é combinar todos esses investimentos logo na entrada para alinhar as expectativas. “O investidor social que não define o legado que quer deixar, não entendeu que algo vai ficar de qualquer forma.”

Confira as publicações na íntegra

O lançamento das três novas edições do GrantCraft é uma parceria do GIFE com o Foundation Center. Baixe agora as publicações com os temas Transparência; Estratégia de saída e Organização de Comunidades.

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